Duas décadas após a sua estreia original, “A Bela e a Fera”, o Clássico Disney mais aclamado de todos os tempos, retorna essa semana às salas de cinemas, apresentado em Disney Digital 3D, por tempo limitado. Neste especial, explicaremos um pouco o processo de conversão dessa fábula para a terceira dimensão.
O cinema, atualmente, vive a evolução de uma tecnologia datada de 1950, o 3D. Quando surgiu, essa técnica comprometia a qualidade dos filmes e acabou sendo inutilizada. A partir de 2008, esse procedimento voltou a ser usado, utilizando novos recursos, e se tornou um sucesso, atraindo milhares de pessoas para as salas de cinema.
A cada semana, novas produções em três dimensões são lançadas. E em meio ao público exigente, que demanda um melhor uso dessa tecnologia, não era de se estranhar que os maiores estúdios quisessem uma atualização dimensional de alguns títulos de seu catálogo.
No ano passado, a Walt Disney Pictures relançou “O Rei Leão” em 3D, arrecadando 492 dólares mundialmente, e, até agora, é o maior sucesso deste empreendimento, indiscutivelmente. Agora, a casa do Mickey Mouse prepara o relançamento de outro clássico da animação – e do cinema – para os frequentadores do cinema moderno com “A Bela e a Fera 3D”.
Gary Trousdale e Kirk Wise encantaram a todos, em 1991, usando magia e muita música, com o conto de fadas francês de uma curiosa camponesa que aprende a amar uma fera encantada, que a leva em cativeiro. O animado foi criticamente e financeiramente bem sucedido – o primeiro a bater a marca de 100 milhões de dólares na América do Norte – e o primeiro do gênero a ganhar uma indicação ao Oscar® de Melhor Filme.
Depois de mais de vinte anos, “A Bela e a Fera” mantém-se um dos mais populares e inspiradores clássicos daDisney. Há dez anos, a restauração do longa-metragem para o lançamento em IMAX obteve um grande sucesso. Assim, não tardou para que o estúdio adicionasse esta encantadora estória à sua relação de filmes em 3D, mesmo que o processo fosse demorado.
O processo de conversão foi liderado por Robert Neuman, supervisor estereoscópico, que começou desenvolvendo os planos de fundo de “Dinossauro”. Mudando, mais tarde, para o departamento estereográfico de produções como “A Família do Futuro”, “Bolt: Supercão” e “Enrolados”.
“A questão-chave era: como podemos usar o 3D como uma ferramenta de contar estórias ou como construir uma ferramenta para melhorar esse processo,” afirmou Neuman, que acredita que os desafios aumentam a emoção da conversão.
Por ser uma das primeiras animações a ser criada totalmente usando o CAPS (Computer Animation Production System)¹, a equipe teve acesso aos arquivos digitais de todos os níveis em cada cena, permitindo que o processo de conversão fosse executado com muito mais eficiência. Isto é, após a recuperação dos dados do extinto sistema.
A partir de um ponto de vista cinematográfico, o filme foi ideal para o 3D, Neuman aponta, devido à sensação de tridimensionalidade alcançada pelo modo como a câmera percorre as cenas, especialmente nos números musicais, como “Be Our Guest/À Vontade”.
“É inerentemente mais complicado do que converter um live-action – em um longa-metragem assim, você divide a imagem em diferentes planos e as posiciona, mas você não tem que fazer muito para esculpir a volume e forma dos personagens, porque há mais sensação de dimensões, devido à iluminação e ao sombreamento. Não há muito que fazer com as sombras dos desenhos, a não ser desenvolvê-las,” explica Neuman.
Sendo assim, o departamento de animação da Disney e o técnico da equipe, Andy Hendrickson, desenvolveram os instrumentos necessários para injetar o volume necessário para Bela, Fera e para o resto dos personagens. Para Hendrickson, o objetivo era construir uma técnica e um conjunto de ferramentas para a equipe transmitir arte tanto quanto possível para a nova dimensão.
Hendrickson recorda: “A maioria disse que não poderia ser feito ou que ficaria plano e feio, por isso, tomamos isso como um desafio e dissemos: bem, como podemos fazer isto parecer que nós adicionamos uma nova dimensão e aumentar a arte do filme?”. O técnico, porém, descobriu que era mais fácil de dizer do que fazer. “Esse é um exemplo clássico da ideia original esboçada em um guardanapo numa viagem de avião. Foi cerca de um ano de pesquisa sobre como fazê-la de forma eficaz. Houve muitas tentativas e erros, e para cada filme que aperfeiçoamos, surgem maneiras novas e mais rápidas para fazer isso.”
Desenvolvendo Profundidade
A conversão era tipicamente feita para projetar imagens 2D na geometria 3D, como explica Robert Neuman, contudo o resultado foi insatisfatório para a animação. Em vez disso, a Disney desenvolveu um sistema de escala de profundidade, onde os artistas – cerca de trinta e cinco estiveram envolvidos durante o pico de produção – mapeavam com pontos, representando a profundidade dentro da tela, “esculpindo” a cena quase à mão.
A conversão de cada cena começa com Neuman marcando a profundidade e fazendo anotações volumétricas, criando um modelo para quem irá finalizar o procedimento. Apesar dos fundos fixos serem relativamente simples, foi mais complicado do que parece, pois os movimentos dos personagens requerem uma atenção especial.
Para solucionar o problema dos movimentos, foi desenvolvida uma escala especial usando formas primitivas (cilindros, esferas e outros) em gradiente, capaz também de elaborar articulações segmentadas, para que os membros e feições tivessem profundidades próprias. Enquanto cada personagem possui uma forma diferente em seu próprio canal alfa², o sistema de gradiente foi necessário para refinar os detalhes. “É como recortar um balão de Mylar³ e infla-lo”
“Nós podemos articular a profundidade, em um braço que se move para frente e para trás, automaticamente,” esclarece Hendrickson. “Como artista, você deve definir todos estes parâmetros, criando como a espessura deve ser, e, então, deixar o computador ajudar, seguindo o que foi definido, através do quadro a quadro.”
Embora haja a automação parcial, Hendrickson assegura que a participação do artista é crucial porque o mundo animado não segue as mesmas regras do mundo real. “Aquele mundo parece dimensional no original, porém ele não obedece à profundidade de uma forma real, assim, você acaba com esses artefatos de M.C. Escher⁴, onde algo está trabalhado na profundidade correta, mas não está agrupado com os personagens e os outros elementos visuais…criando cenas bizarras.”
Por experiência própria, Neuman sabe os problemas criados por aquelas agradáveis cenas em animação 2D, segundo ele, são as mais complicadas de serem retrabalhadas. “Você deve imaginar o que o desenhista pretendia. Às vezes você olha e pensa: ‘Isso não parece certo, ela dá dois passos e encolhe três quartos!’”
Para auxiliar ainda mais os artistas, um novo aparelho foi projetado para atribuir automaticamente os pixels à posição correta do olho esquerdo e direto necessária para que o efeito estereoscópico aconteça. Denominado de “voluplane” – uma homenagem à câmera multiplano criada por Walt Disney –, o sistema é a mais recente conquista na longa história de inovações tecnológicas do estúdio, ressalta Hendrickson.
“Há quase vinte anos, nós pegamos a câmera multiplano e a transformamos no CAPS – um sistema vencedor do prêmio da Academia. O que nós construímos aqui é um sistema multiplano, mas, em vez de um número discreto de planos, há infinitos planos, com a possibilidade de se adicionar espessura. No lugar do rosto de Bela estar em um plano de evidência, ele pode ser arredondado usando a profundidade. O voluplane nos permite dar nova vida aos filmes, criando volume nos personagens e nas cenas, em vez de superfícies achatadas”.
Misturando arte e tecnologia
A revitalização 3D de “A Bela e a Fera” foi um aprendizado, provando a necessidade de um ciclo para o término, o que fez a equipe alcançar uma média de duas cenas completas por artista a cada semana.
“Há tantas cenas boas,” responde Neuman, quando questionado sobre o resultado mais impressionante no trabalho concluído. “É divertido, pois o 3D realmente acrescenta muito a uma cena de ação, quando os lobos atacam a Fera, por exemplo, ou trabalha de maneira cautelosa nas partes românticas. Uma das cenas em que acho que se pode ver realmente o potencial é no encontro da Bela com a Fera no castelo. É muito dramático, existe uma espécie de luz volumétrica no ar e o 3D aumenta a dramaticidade.”
Desde a finalização de “A Bela e a Fera”, Neuman, Hendrickson e os outros técnicos avançaram para o próximo desafio: trazer “A Pequena Sereia” para o reino estereoscópico. Cujo projeto será extremamente complicado, uma vez que não há a vantagem dos arquivos do CAPS. Contudo, Hendrickson está confiante, afinal, sua equipe entrou com seis pedidos de patentes durante a conversão de “Bela”. Junto com seus parceiros de pesquisa em todo o mundo, aDisney Animation Studios continuará a misturar os mais recentes avanços tecnológicos à longa tradição criativa.
“A Disney sempre possuiu esse equilíbrio entre arte e ciência, e é necessário ambos. Você não pode fazer apenas ciência, como não pode fazer só arte, é preciso uma combinação – e tem sido assim desde a criação do estúdio, há mais de cinquenta filmes animados,” conclui.
O resultado da conversão de “A Bela e a Fera” para a terceira dimensão poderá ser conferido a partir dessa sexta-feira, dia 03 de Fevereiro.
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