quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Ação de As Aventuras de Tintim é de tirar o fôlego


















Steven Spielberg conheceu o personagem Tintim quando, à época do lançamento de “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), críticos franceses compararam o espírito de aventura de seu longa com a criação do desenhista belga Hergé (1907-1983). Desde então, o cineasta tentava realizar uma adaptação cinematográfica da HQ, mas a impopularidade do personagem nos EUA se mostrou uma barreira para o financiamento e o americano aguardou calmamente o desenvolvimento tecnológico e os parceiros certos se aproximarem.
Bom para os fãs dos quadrinhos de Hergé, porque “As Aventuras de Tintim” não seria o mesmo filme se fosse realizado antes e de outra forma que não a animação digital baseada na captura de performance. A estreia de Spielberg no gênero é um desbunde visual.












O cineasta usou a incrível tecnologia da Weta (o estúdio digital de Peter Jackson, responsável pelos efeitos de “Avatar” e da trilogia “O Senhor dos Anéis”) e trilhou um caminho oposto ao que a empresa tinha percorrido antes, com os personagens Gollum e King Kong. No lugar do realismo extremo, o diretor abraçou a caricatura e as cores vivas e fortes, assumindo a origem nos quadrinhos.
Ao mesmo tempo, “As Aventuras de Tintim” foge de uma das principais características das páginas de Hergé: o excesso de texto. A animação de Spielberg não para um minuto e é capaz de deixar o expectador sem fôlego ao final da projeção. O irônico é que essa ação incessante, que pode incomodar os fãs mais radicais, na verdade faz uma justa homenagem ao espírito da HQ belga, repleta de aventura.












A história, roteirizada por Steven Moffat (da série “Doctor Who”), Edgar Wright (“Scott Pilgrim Contra o Mundo”) e Joe Cornish (“Ataque ao Prédio”) une elementos dos livros “O Segredo do Licorne” e “O Tesouro de Rackham, o Terrível”. Ao comprar uma réplica de um navio, Tintim descobre que a miniatura guarda um segredo sobre tesouros escondidos e uma desavença entre duas famílias de capitães marítimos que dura gerações.
Jamie Bell (“Billy Elliot”, 2000) está bem como o jornalista juvenil, mas é Andy Serkis (“O Planeta dos Macacos: A Origem”), como sempre, quem rouba a cena – desta vez, como o embriagado Capitão Haddock. O personagem é muito divertido e merece um filme próprio, tanto pela sua complexa história e personalidade quanto pelo ótimo desempenho de Serkis, que sabe tudo sobre interpretação digital.












Todos esses elementos funcionam devido ao frescor da direção de Spielberg, estreante no mundo da animação (e do 3D). O diretor estava inspirado com a falta de limites que o ambiente virtual poderia lhe oferecer e não economizou na pirotecnia. Sua “câmera” passa por debaixo de carros, rodeia e atravessa um navio em plena batalha e acompanha uma perseguição automobilística num plano-sequência que seria impossível num filme com atores e cenários reais.
O grande acerto do cineasta, no entanto, foi não suavizar nos elementos que corriam o risco de ficar de fora devido ao amadurecimento (leia-se “excesso de pudor”) que o tomou nos últimos anos. A animação traz armas de fogo, socos, sangue e bebida alcoólica – o que pode parecer óbvio, em se tratando de “Tintim”, mas vale lembrar que o diretor substituiu digitalmente pistolas por lanternas na edição comemorativa de 20 anos do clássico “ET – O Extraterrestre”, em nome do politicamente correto.












Apesar do inevitável fracasso de “Tintim” entre o público americano, a bilheteria mundial e as premiações (levou o Globo de Ouro e o prêmio dos produtores de Hollywood) devem garantir o segundo capítulo, agora com uma inversão de papéis: Spielberg vai para a produção e Peter Jackson (“O Senhor dos Anéis”) passa a dirigir.
Até lá, já vai dar para ter recuperado o fôlego.
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As Aventuras de Tîntim

(The Adventures of Tintin, EUA, 2011)

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